15.2.11

a seguir ao último

Sem saber o que lhes fazer, fui guardando as saudades num envelope e quando voltei a portugal, fechei-o e escrevi em letras gordas na parte da frente - mágoa. e esqueci o que ele continha.

olhei para ele e culpei o blog, contador de histórias felizes que se esqueceu de contar as partes menos boas. Pintou a história de cor-de-rosa e assim afastou quem eu mais precisava.

Com momentos bons ou menos bons, tudo o que vivi foi maravilhoso. E se estou triste, é pelas saudades.
Abri o envelope ao desfazer a mala, chegada a casa, e as saudades voaram para longe. mas logo ele se voltou a encher sozinho de mil papelinhos de diferentes cores e feitios que voavam e procuravam encontrar o seu lugar. E cabem todos, claro.

Desta vez fechei o envelope cheio de saudades dos meus amigos de nova iorque, da minha casa,do meu trabalho, dos ares da cidade, do metro e da neve, do verão e das panquecas de ricotta, da raquel e do michael, das minhas plantas, da minha bicicleta, dos desenhos, da jessie e do philipp.

fechei o envelope, e com uma caneta escrevi:
Amor.

14.2.11

10 dias após o regresso

Comecei este blog com o objectivo de documentar a minha experiência em nova iorque. uma pequena walnut - eu, a nogueira - na grande maçã - cidade que nunca conheci, mas muito, muito mais do que isso: novo trabalho, nova vida, viver sozinha pela primeira vez, novos amigos, sons e cheiros diferentes.

Comecei este blog com o objectivo de preservar a ligação a casa, como se fosse uma corda de segurança que me protegeria e não deixaria que me perdesse lá pelas terras longínquas, lá pelas américas, lá por aquela nova vida que pouco tinha da antiga. Não sei se o meu medo maior era de perder as pessoas ou de me perder a mim, de deixar de ser eu. Mas acho que é difícil separar os dois, tantas são as vezes em que somos o reflexo dos que nos rodeiam.

Por brincadeira, comecei este blog dizendo que assim não teria de escrever emails repetidos a contar a mesma história a diferentes pessoas. Comecei este blog para que quem quisesse, pudesse estar mais ou menos a par do que eu estava a viver.

Comecei este blog para de vez em quando olhar para trás e ver o tempo a passar nas imagens e nas palavras e sentir que cresci, que aprendi e que mesmo quando tinha dúvidas ou medos, tudo se resolveu. Ajudou ter um registo a que pudesse recorrer, que me ajudasse a lembrar de como foi chegar a um lugar que não tinha nada de meu, e como isso mudou tão drásticamente que não consigo sequer conceber a ideia de que já não estou lá.

Comecei este blog e acabo-o sabendo que ficou muita coisa por dizer. A frequência com que escrevia foi-se tornando inversamente porporcional à intensidade com que vivia fora dele, uma progressão que por vezes foi injustamente criticada, como se de uma obrigação e de um dever se tratasse.

Este blogue fez-me perceber que não são os blogues que aproximam as pessoas, nem as redes sociais. São úteis, são divertidos, mas no que toca às pessoas importantes, não se pode deixar que as relações sobrevivam à base de se dar uma espreitadela no que se escreveu e fazer um comentário. Não se pode por as relações em pausa durante oito meses, só porque eu ia escrevendo que estava tudo bem, e não telefonar a saber o que é que não foi escrito. É que a vida que acontece é a que não está escrita, mas a que se ouve ao telefone, a que se lê nos olhos e não num ecrã.

Vim dar um salto a Lisboa, mas parto para Berlim. Por graça lembrei-me que de repente a walnut and the apple poderia passar a ser the walnut and the wurst. Mas ponho a ideia de lado, e atrevo-me a experimentar uma distância mais real, mais sem corda, mas ainda assim transponível com um telefone,  um meio de informação não unidireccional como este.