finalmente posso escrever pelo dia dentro! um sábado de chuva tropical é mais que motivo para ficar em casa a ler, desenhar, ouvir música e actualizar o blog! ora aqui vai então:
no décimo quarto dia, acordei cedinho e ainda meio adormecida voltei a abrir o macbook que tinha ao meu lado, também ele ainda a dormir sossegadinho. e foi então que uma nova iorque dos anos sessenta e a preto e branco me voltou a encher o quarto. quando acabeie ver o Manhattan do Woody Allen, continuei na ronha por mais uma hora, comi cereais, falei com o meu gonçalo pelo skype, espreguicei-me, levantei-me, arrumei o quarto todo e depois de banhos e coisas quotidianas saí de casa.
O Cesto
no décimo terceiro dia, sexta-feira, ao voltar do trabalho saí do metro e ao vir para casa encontrei um cestinho na rua. já não me surpreendo com a quantidade de coisas que as pessoas põem à porta de casa e já parei várias vezes ao pé de muitas delas a considerar sériamente leva-las comigo. todos os dias vejo roupa, cadeiras, camas, secretárias, sapatos, livros livros livros, mais cadeiras, mais mesas, todo o tipo de electrodomésticos, computadores. e o mais extraordinário é que a maior parte das vezes as coisas até estão em bom estado. Aqui em casa temos muitos móveis que vieram de outra casa, e eu acho fantástico que assim seja. sabe-se lá que histórias terão estes inquilinos silenciosos guardadas nos seus vértices e arestas! pois eu acolhi este cestinho ontem à noite e gosto muito dele. hoje até o levei a passear, dando-lhe um uso ao qual já não deve estar habituado. lá fomos nós rua abaixo, eu com ele pelo braço, ele com os meus
livros para entregar na brooklyn public library. troquei-os por dois novos e voltámos a sair para a rua em diracção ao mercado que fica mesmo ao lado e à entrada do prospect park. Aí é que o cesto se encheu de orgulho! levou-me rúcula, pêssegos, cogumelos, tostinhas de sésamo e flores, flores! o que eu precisava de flores novas que me animassem depois desta semana mais chocha. agora sim estou pronta para o que der e vier! e mais, a chuva varreu e lavou o ar e espero que já não esteja tanto calor... enfim, assim voltei com o meu cestinho pelo braço, depois da biblioteca, depois do mercado, depois até do elogio de um rapaz a quem os girassóis lhe iluminam o dia.
chegada a casa, compras arrumadas e a minha roommate pergunta pelo cesto, de onde veio. eu conto que o encontrei e vejo a expressão a mudarse-lhe na cara. alguma problema? disse-me que tinhamos de ter muito cuidado com os terríveis bedbugs, uns bichos que eu nunca ví. por isso agora o cesto está de castigo na banheira a secar. fim
de volta ao dia de hoje... continua a chover torrencialmente! e se por um lado às vezes sinto que ainda não vi quase nada, exposições, concertos, toda a imensidão de coisas que a cidade tem para oferecer, por outro lado estar quieta um bocado só no meu espaço sabe-me mesmo bem. A verdade é que eu não sou nem turista, nem residente, estou entre os dois pólos. e por isso acontece-me sair do trabalho durante a semana, cansada, e pôr-me a andar pelas ruas sem saber bem onde ir porque já é noite, a observar as pessoas, ainda a descobrir, sim! e também acontece, como hoje, ter tempo e precisar de não ir para lado nenhum. (por acaso nem é verdade porque logo à noite vou a uma inauguração com amigos).