13.7.10

primeiro mês: décimo sétimo dia

A propósito do assunto do último post (até porque os estou a escrever no mesmo dia, batoteira) e sobre a questão das oportunidades estarem mais à mão de semear em certos contextos, hoje passei a fazer parte de um projecto independente que, se tudo correr bem, me dará tanto trabalho quanto prazer. fui convidada pelo meu futuro colega de casa - sim é oficial, em Agosto estarei a morar num loft, com novos roommates da minha idade, mas conto mais sobre isso em breve! - para fazer parte da organização de um festival nuit blanche em brooklyn. É um projecto de dimensões pequenas organizado por um grupo de intervenção 'comunitário' chamado DoTank Brooklyn. Estou super entusiasmada por fazer parte disto e principalmente por ser algo pequeno onde todos trabalham em equipa, algo ao qual não estou muito habituada a fazer. É algo que está completamente embebido na cultura norte-americana, porque eles basicamente crescem a sentir que fazem parte de uma dada comunidade, vendem limonada no passeio, brownies, conhecem os vizinhos, ajudam os vizinhos, organizam coisas, mexem-se a uma escala que é pequena, mas esse mexer dá-lhes ferramentas para que quando algo grande lhes aparece à frente, seja muito mais fácil aplicar os mesmos princípios.

Alias, isto lembra-me a escola em que andei na primária, onde se seguia o movimento escola moderna. todos trabalhavamos em conjunto e cada um tinha uma tarefa, faziamos assembleias, planos semanais de trabalho onde nós próprios decidiamos o que iamos trabalhar e que nós mesmos avaliávamos no fim da semana. quando cheguei ao quinto ano, numa escola nova, senti que não tinha aprendido nada na primária e que estava significativamente atrasada em relação aos meus colegas vindos de escolas convencionais. Porque o foco na minha escola era na formação pedagógica, na transmissão de valores, na partilha, na ajuda. No Externato Fernão Mendes Pinto, em Benfica, aprendiamos coisas que não eram quantificáveis numa escala. As contas de dividir e os rios de Portugal estavam no programa, mas que eu saiba nem eu nem os meus colegas as aprendemos até mudarmos para um sistema convencional e sermos formatados para pensar como indivíduos, levados a competir com o colega do lado por notas melhores. Suponho que por causa dos anos que se seguiram à primária, destreinei-me desses trabalhos de grupo, virei-me para dentro, passei a ter dificuldades em expor as minhas ideias e em partilhar processos, mais do que soluções e objectos acabados. Estou a reaprender, e por isso este tipo de projectos só podem ajudar a desenterrar esses valores que me foram ensinados numa fase tão elementar. Mais uma vez, esqueço a lógica (será que este projecto tem pernas para andar? será que vou perder o meu tempo a trabalhar nisto?) e sigo as emoções e o instinto que, embora num tom mais indistinto, me dizem para ir em frente, e a todo o gás!

4 comentários:

Teresa disse...

se esse trabalho tem pernas pra andar ou não, só sabes se te atirares prá piscina! uma coisa tens já garantida: qualquer experiência te vai dar ramificações pra outros campos, *especialmente* se for noutro campo diferente! na universidade nunca nos dizem isto, nem faz sentido para os robots que saem de lá trabalhar noutra área que não a que vem na lista, não é?
ainda bem que há quadradinhos para nós termos a auto-estrada livre pra nós, great minds :P hahah

Unknown disse...

não dizem não. e estou mesmo convencida que para as áreas criativas (mas provavelmente para muitas outras) a experiência profissional durante os estudos devia ser altamente recomendada ou até fazer parte do programa curricular. Assim como uma forma de ter créditos ou algo assim. Ajudava de certeza a que as pessoas não andassem tão assustadas. E dava mão de obra aos galeristas e designers que por sua vez pensariam duas vezes em empregar *de graça* pessoas já licenciadas. o que é um disparate isso dos estágios não pagos e espero que acabe.

senhora sardenta, como te admiro agora mais que nunca! estar longe tem o seu lado negro e difícil, e apesar de altos e baixos normais, continuas de pé aí do outro lado do mundo (e a 12 horas de diferença de mim agora!). os meus sinceros parabéns!
grandes mentes não sei, mas que é preciso às vezes ser um bocado (de)mente lá isso é. :)

Teresa disse...

hahaha it's all about freedom and self-love, baby! ;)
há lá coisa melhor que uma pessoa conhecer-se e apaixonar-se? só não digo isto mais vezes porque soa a livro de auto-ajuda...
a "solidão" traz muitas vantagens. e às vezes quando menos se espera, companhia mais-que-decente. :) (if you know what I mean)
inda bem que tás uma esponja. <3

Telma disse...

Essa ideia de trabalhar durante os estudos está muito presente por exemplo na Dinamarca. Quando lá estive em Erasmus, vi diversos jovens certamente com menos de 16 anos a trabalhar e ninguém encarava isso como um escândalo, só mesmo nós. Qualquer estudante pode ter um emprego (com tarefas adequadas à sua idade), recebe o seu ordenado e ao mesmo tempo sobe a média de entrada na universidade. O mesmo acontece com o voluntariado, que aumenta as médias. Nenhum estudante paga para estudar, bem pelo contrário, pois todos recebem até acabar a universidade. E, se trabalham ao mesmo tempo, esse subsídio para estudar é ainda mais alto.
Parabéns pelo blog e pelas descobertas constantes!