passaram 11 dias desde que aqui escrevi, 11 dias desde que fez um mês que aqui cheguei. podia até ser apenas coincidência, mas algo me diz que não é. algo mudou e só agora me apercebo disso. as coisas que eram novidade deixaram de o ser, e com o tempo vou-me habituando às pequenas grandes diferenças que todos os dias me entram pelos olhos, pela pele dentro. criei uma rotina e, pouco a pouco vou sentindo que faço parte deste fluxo imparavel de gente, ideias, informação, pessoas pessoas pessoas, táxis, bicicletas, comida, comida. sinto-me fluir como o vento que sai dos milhares de ares-condicionados dos quais os novaiorquinos dependem mais que de outra coisa qualquer.
o que é novo vem agora de dentro. daí a ausência de uma fotografia que ilustre o que quero contar hoje - sobre os últimos 11 dias, os primeiros a seguir ao primeiro mês.
gosto de listas, mas não sei se uma me ajudaria nesta tarefa. estou a pensar como fazer isto, como partilhar algo que até aos meus olhos me parece ainda difícil de perceber. é algo em bruto, suponho. como tal, se tudo isto vos soar estranho, confuso, complicado, simples, em espiral e do avesso, então provavelmente fui bem sucedida.
tudo começou quando, uma noite, sonhei em inglês. ou se calhar não começou, mas acabou com esse sonho. não sendo nada de especial, uma conversa entre pessoas ou algo do género, foi crucial.
depois (ou terá sido antes?) foi aquele filme que eu revi. nele reconheci a cidade, os pequenos apontamentos que agora me dizem muito mais sobre a história e sobre os personagens do que quando o vi a primeira vez, sem estar envolvida pelo mesmo ambiente, pelos mesmos cenários, sons, cheiros. o diabo veste prada não é um filme nada por aí além, mas reve-lo teve um efeito profundo em mim, pelo que mencionei acima. abanou-me e invadiu-me com uma força que não lhe esperava. quando voltei a ver aquele recorte da cidade, aquele que vejo quando o comboio/metro atravessa a ponte de brooklyn e parece que vamos em direcção aos arranhacéus, esse postal ilustrado. de certeza que vamos chocar, mas nada a contece e quando finalmente voltamos à superfície, damos por nós rodeados deste universo imenso de espelhos, de verticalidade, de vertigens, de olhar para cima e sentir-me pequena e ao mesmo tempo grande neste jardim de flores raras que são prédios de duzentos andares.
acabei o "the brooklyn follies" e não tenho palavras para explicar o bom que foi te-lo como companhia nestas primeiras semanas. tenho a sensação de que continuo a te-lo comigo. a história passada no mesmo bairro onde vivo, park slope, as suas ruas as mesmas que todos os dias percorro. é o bairro mais bonito de brooklyn, a meu ver, e imagino-me a viver nele muito tempo e a ser muito muito feliz nele.
e, no entanto, fez um mês que aqui cheguei e decidi mudar de casa.
park slope pode esperar. a paz pode esperar, o sossego, as casas lindas lindas e as pessoas adoráveis, o parque e os bebés podem todos esperar. o frenesim e as luzes, o barulho e as pessoas, a efervescência e o borbulhar de ideias, ter 25 anos e não saber tudo. saber algumas coisas, talvez, mas não saber tudo. conhecer pessoas, partilhar experiências com pessoas da minha idade, são as motivações que me levam a procurar uma nova casa.
foi preciso chegar para perceber o que significa sair.
saí da casa onde vivia com a minha mãe e a minha irmã (saudades saudades infinitas) e cheguei a uma casa que curiosamente tinha muito da casa de onde parti. a mesma figura maternal, agora sob a forma de roommate de 40 anos, designer, budista iluminada e compulsiva das limpezas. escusado dizer que neste lugar reencontrei a minha casa. até que voltei a sentir que não conseguia esticar os braços. não tenho espaço para decidir o que é isso da minha casa. que casa é essa estou eu a tentar descobrir. mais que o lugar físico, o bairro, o aspecto dos prédios, o sorriso na cara dos vizinhos, o que procuro é um lugar que não é físico.
podes pintar as paredes da cor que quiseres, disse ele ao mostrar-me aquele quarto cheio da tralha que em breve poderá dar lugar á minha tralha. e eu sorri.
Robe à la Française
Há 6 anos
5 comentários:
que linda! :)
:) que bom! :)
beijinhos
Que bom ter-te de volta.
Adoro-te.
Beijinhos.
Sê feliz.
Avô Manel
que bom, maria.
e que bom teres gostado tanto do livro.
e tenho outro para te aconselhar. vou mandar-te um mail. beijos.
Gostei tanto de ouvir a tua voz pela primeira vez desde a tua partida!
Ainda bem que retomaste o blog. Já havia muita gente a sentir a falta dele. Beijinhos.
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