25.6.10

vigésimo nono, trigésimo

no vigésimo nono dia acordei e não sabia bem se havia de pegar na bicicleta outra vez. ok, foi divertido mas também não sou tontinha. por outro lado não me saía da cabeça aquele ditado que diz que se cairmos de um cavalo devemos montá-lo de novo logo a seguir. algo do género. assim foi, e desta vez, sem chuva, sem preocupações (a não ser uns buracos enormes que pisei). No fim do dia até decidi dar uma volta pelo centro, fui até union square à Strand, uma livraria fantástica que segundo o site oferece um serviço de venda de livros ao metro, só para decoração das estantes. estes americanos são malucos. comprei um livro que espero sirva de empurrão para uma nova etapa. se calhar constitui mais um acto de procrastinação, de adiar o momento em que terei de arregaçar as mangas e deitar mãos à obra, arriscar, acreditar e deixar-me de mariquices. possivelmente é disso que se trata, mas pensei muito bem antes de o comprar e acho que ainda assim é um livro útil e cheio de recursos. já tinha outro da mesma colecção. as edições são optimas, por isso não estou nada arrependida. para além disso estava em promoção, o que posso mais querer? (nota: devo explicar que todas estas justificações são consequência de um grande defeito meu, forretice!!!)

vigésimo oitavo, parte dois


já lá vão uns dias e, como a chuva foi a estrela do dia, quase me esquecia de contar e mostrar o maravilhoso hamburguer de cogumelo portobello que fiz para o jantar. fiquei mesmo feliz, porque apesar de adorar cozinhar, nunca sigo receitas, ou faço pratos específicos. quanto muito posso fazer coisas que se pareçam vagamente com outras, mas quase sempre não sei o que lhes chamar - legumes salteados, coisas com temperos à la intuição.

24.6.10

vigésimo sétimo, vigésimo oitavo


no vigésimo sétimo dia em nova iorque comprei um cadeado e luzes para a bicicleta. o mapa com as ciclovias já cuidadosamente estudado desde há uma semana e tal. é um cadeado kryptonite que espero que não me deixe ficar mal. bicicleta é da casa, e como tal, até nem é um mau negócio, até porque o cadeado e as luzes são facilmente transportáveis na viagem de volta (sim, porque por aquele preço têm mais é que durar uma vida inteira!)

no vigésimo oitavo dia acordei às 7 da manhã e às 8.45 estava de capacete na cabeça a sair de casa mais veloz que o costume. a zarpar pelas ruas de brooklyn, embora cuidadosa e atenta aos carros e outros ciclistas. por dentro, toda eu um sorriso de braço a braço.

vigésimo sexto


No vigésimo sexto dia, acordei rodeada de amigos e tomei um grande pequeno almoço/brunch. porque agora tenho um novo ciclo de sono, acordei cedo apesar de a noite ter sido longa. enquanto todos dormiam, no sofá, num colchão de ioga, aproveitei para olhar bem para esta casa tão cheia de coisas interessantes. bem diferente da onde estou a viver. pergunto-me se não estaria melhor rodeada de um grupo de amigos assim, num ambiente mais jovem, mais descontraido e divertido. afinal de contas estou cá 8 meses, e embora adore o bairro onde estou agora, a casa e o quarto, se calhar não seria mal pensado adirar esses confortos em prol de um maior contacto com pessoas da minha idade e da minha área.

20.6.10

vigésimo quinto

na impossibilidade de conseguir escrever este post e deitar-me a horas decentes, vou ser consisa e apostar no velho mote de que uma imagem vale mais do que mil palavras. et voilá o meu dia de sábado que mais pareceu uma semana inteira.


1. ida ao mercado biológico de grand army plaza, finalmente munida de bicicleta.

vigésimo quarto

sexta-feira, vigésimo quarto dia, mais uma ida a vários toys 'r us em new jersey para ir buscar carros telecomandados. odeio o toys 'r us e acho que depois disto também não gosto nada de new jersey. tive de apanhar 3 autocarros e esperar uma média de 45 minutos por cada um debaixo de um sol abrasador, mas lá consegui voltar a manhattan, com um saco cheio de carros e uma barriga a dar horas (apesar de ter almoçado num restaurante no meio do nada onde comi a maior e mais ensopada em molho salada do mundo).

18.6.10

vigésimo terceiro - parte dois


pensei que o dia já tinha acabado, por assim dizer. que nada de especial ia acontecer, dado que era dia de semana e do trabalho ia para casa dormir. pensei mas pensei mal, e a minha suposição só demonstra como sou nova nesta cidade que nunca dorme e onde a qualquer momento e em qualquer lugar algo de inesperado pode acontecer.

17.6.10

vigésimo terceiro


no vigésimo terceiro dia desenhei 25 pessoas e dois um narizes a caminho do trabalho. fui até dois toys 'r us  no meio de new jersey buscar 6 carros telecomandados e fartei-me de rir com um taxista egípcio que acha que as mulheres nórdicas são demasiado branquinhas e que adora cães e gregos. acho que aqui o que é habitual é não ter um dia nada mas nada habitual! 

ainda não tinha desenhado desde que aqui cheguei. vontade não faltou mas estava demasiado ocupada a olhar. hoje comecei e não parei. o metro é perfeito, especialmente em hora de ponta, onde ninguém se importa com o que a pessoa do lado está a fazer. acho que o paul auster ganhou um grande adversário no caminho para o trabalho!

16.6.10

décimo sétimo ao vigésimo segundo

tempo tempo tempo. tempo que não tenho e gostava de ter para escrever e contar tudo o que tenho feito. condenso num só post quase uma semana inteira e aproveito para parar um bocadinho, só para retomar o fôlego e mergulhar uma vez mais, perder-me uma vez mais nesta nova e agitada casa/cidade/vida.

olho para dentro por momentos, e mal me recolheço, como se ao mudar a paisagem que me rodeia, tivesse mudado também a paisagem que guardo em mim. se bem que na verdade não sei bem se não são antes os olhos com que vejo uma e outra, que são diferentes. ideias demasiado confusas que apenas são claras ao ilustrar o sem fim de emoções novas e 'pouco claras' que circulam pelo meu sistema. devo andar com os chakras aos saltos, com tanta emoção. toda eu sou uma mesa de pinball em alta actividade e tremeliques. plim plim plim!

10.6.10

décimo sexto

hoje fui a um evento da MTV. uma espécie de retrospectiva cheia de vídeos antigos espectaculares e longas conversas saudosistas entre os criadores do revolucionário canal de televisão. quando um deles se virou para o público e perguntou se alguém tinha perguntas, instintivamente pensei - ok isto foi muito giro mas já acabou - qual não foi o meu espanto quando começam a surgir todo o tipo de perguntas, umas a seguir às outras. 

sem querer generalizar: acho que não é algo que aconteça muito em portugal. ainda há uns meses estive numa palestra/conversa na fbaul com o lawrence weiner e, embora a sala estivesse a transbordar de pessoas, sedentas de o ver e ouvir, só uma ou duas falaram.

hoje apercebi-me de que agora vivo aqui. que embora nada seja imutável, como dizem os budistas e eu acredito, é um bocado difícil de engolir. porque é uma mutabilidade algo contida. não posso estalar os dedos e ir cinco minutos a casa trocar abracinhos. não posso. e isso deve ser provavelmente uma das coisas mais difíceis. para além da dificuldade que sinto em apresentar as minha ideias em inglês no trabalho: nervos + traduzir tudo na minha cabeça enquanto falo = mais nervos e sensação de que todos devem achar que sou atrasada mental.

infelizmente não tenho 6 anos. ir para itália e expressar-me, fazer amigos e divertir-me foi tão fácil e tão pouco assustador nessa altura. não me lembro nada de dar por mim a ter questões existenciais sobre o que os outros pensariam de mim. brincar era a lingua universal.

9.6.10

décimo quinto


acordo às sete e meia, tomo banho, como muesli e falo no skype. às oito da manhã é uma da tarde em portugal. estou cheia de sono, mas é a melhor, senão única hora do dia para falar com amigos, família, namorado... à noite tenho por vezes a sorte de encontrar uma ou outra amiga noctívaga disponível para longas conversas pontuadas de gargalhadas que nos ligam como nenhuma rede wireless o pode alguma vez fazer.

8.6.10

decimo quarto


já cá estou há duas semanas.
hoje reparei que já ganhei o hábito de ir olhando para as entradas das casas a ver se há coisas à borla. 

ainda não encontrei o livro ideal para ler. infelizmente só pude trazer um porque tinha excesso de peso. sei que pode não ser muito intelectual e charmoso, mas o que trouxe foi este. não é para alarmar ninguém, não estou a fazer 'dieta'. simplesmente adoro ler livros sobre nutrição e aprender mais sobre os alimentos e como podemos tirar mais partido deles - e este é fantástico! adeus sugar cravings, olá papa de aveia, hummus e barritas de granola! (em teoria...)

ainda assim, preciso de um livro urgentemente! isto de passar o dia à frente do computador e repetir a proeza mais umas horas quando chego a casa é um exagero. preciso de um livrinho para me lavar as ideias e embalar. 

bem ao menos tenho cozinhado optimos jantares.

7.6.10

quinto ao décimo terceiro

no quinto dia fui ao jardim botânico. ou terá sido no sexto?
o tempo voa porque entretanto comecei a trabalhar antes mesmo de estar instalada. ainda 'perco' tempo a olhar para tudo atentamente, a ouvir, a cheirar (embora não cheire muita coisa) mas acima de tudo, a sentir.

vou e vejo, ou às vezes vejo sem precisar de ir. e o que vejo faz-me sentir, e o que sinto faz-me pensar, desperta-me novas ideias, novas questões. não sei quantas vezes mais terei esta sensação. esta mesma de descobrir tudo. de ter medo e de o conquistar. ou simplesmente ver que às vezes não vale a pena porque as coisas se resolvem. aprender: a pedir ajuda - a aceitar ajuda. sentir muitas muitas coisas. ver muitas muitas coisas. não ver nada e no entanto continuar a sentir algo novo.

difícil é estar parado. difícil é ficar preso pelo medo de dar um passo. porque o terror nos consome e andamos ali entre a vontade de espreitar e o medo de falhar. ando aqui a descobrir que falhar afinal não é tão difícil, e é preciso. com os erros se aprende.


lista:
comi panquecas americanas ao pequeno almoço. eram boas optimas mas não consegui comer todas
comprei um frisbee por $1 numa das milhares de Stoop sales que há no meu bairro. stoop sale é quando alguém vai para a porta de casa e vende montes de coisas que já não precisa por muito pouco dinheiro. uma espécie de feira da ladra. também se vê imensa coisa em caixotes, livros, objectos e até móveis que simplesmente são oferecidos a quem os quiser.
comprei flores amarelas para pôr no quarto mas ainda não desfiz a mala totalmente. não sei o que significa... alguma interpretação esotérica?
fui ao cinema e o chão não era inclinado. as pipocas sabiam a manteiga e o bilhete foi caríssimo. mas valeu a pena (Micmacs de Jean-Pierre Jeunet)
fiquei tão contente por ver que as pessoas distribuem sorrisos na rua que sorri a um cão. mas ele não mo devolveu.
comi wraps ao almoço a semana inteira e ainda não me fartei. também não sou eu que pago.
perguntei ao senhor quantos ingredientes podia escolher para por dentro do wrap e ele disse: todos os que quiser.
não sei se o facto de o rapaz do banco me tratar por 'dear' quer dizer que é bem educado ou se se está a atirar a mim.
estou fascinada com as folhas da impressora em tamanho Letter.
sou a única pessoa que não tem um iphone e que se perde no meio de prospect park por esse mesmo motivo.
também devo ser das poucas que acha que pode facilmente atravessar o prospect park só porque saiu na estação de comboio do lado oposto. e acaba por se perder depois de passar meia hora a andar por entre lagos e cascatas. começa seriamente a pensar na possibilidade de chamar um táxi para a tirar dali, e quando finalmente chega ao lugar do piquenique, não está lá ninguém. porque o piquenique estava combinado para o dia a seguir, mas disso só se apercebe quando chega a casa.
fui ao piquenique no dia certo e foi fantástico. só já não tinha morangos para levar porque os comi todos no dia anterior enquanto procurava pelo piquenique; enquanto desistia de o procurar e provavelmente ainda alguns quando dei por mim a concluir que não queria ter nada a ver com pessoas, em geral.
embora aqui em casa se tire os sapatos à entrada, dei por mim a ter de voltar duas e três vezes atrás para ir buscar algo que esqueci de manhã, e não os tirei. Ainda assim, em minha defesa gostaria de acrescentar que andei quase colada à parede. é o meu caminho secreto agora.
ainda não acredito que estou a trabalhar para a Sagmeister inc. ainda não acredito que estou aqui.
fiz listas de compras e deixei-as na secretária
comprei nabo a pensar que era beterraba
comprei um pão enorme e não o comi
comprei um pão pequeno e não o comi
tenho um alho no meio do quarto
não sei se o papel higiénico é caro ou barato. deve ser caro.
passei meia hora em agonia a tentar escolher cereais para o pequeno almoço
dormi com a ventoinha ligada e tapada com um edredon de inverno por preguiça de o tirar
aprendi as regras do baseball por alto
vi jogar baseball e não percebi nada
percebi que nunca aprendi a ser designer em inglês
e que aqui tudo é enorme: os carros, os wraps. as pessoas é que são magrinhas.
não são as novaiorquinas que aguentam sapatos mais altos, são os sapatos que são altamente forrados e almofadados com coisas hi-tech
não me sinto nada sex and the city. se calhar mais o diabo veste prada, quando ela anda de um lado para o outro cheia de cafés e coisas.
o jet lag passou, que pena.

nos últimos dias fiz muito mais do que aqui escrevi. só ainda não processei tudo.