vigésimo quarto

sexta-feira, vigésimo quarto dia, mais uma ida a vários toys 'r us em new jersey para ir buscar carros telecomandados. odeio o toys 'r us e acho que depois disto também não gosto nada de new jersey. tive de apanhar 3 autocarros e esperar uma média de 45 minutos por cada um debaixo de um sol abrasador, mas lá consegui voltar a manhattan, com um saco cheio de carros e uma barriga a dar horas (apesar de ter almoçado num restaurante no meio do nada onde comi a maior e mais ensopada em molho salada do mundo).

à noite fiz uma espécie de ratatui com courgette, ervilhas em vagem, cenoura e molho de tomate. bom se calhar de ratatui não tinha nada, mas era optimo, acompanhado de penne integrais e muitos coentros (cilandro, agora já não me esqueço). jantei e falei ao telefone com o gonçalo, que 6 horas mais adiantado que eu, me contava como tinha sido a sua noite. olho para o relógio e, ao contrário da noite do concerto na rua, desta vez já era tarde, quase meia noite, e ainda tinha de ir ter com uns amigos a williamsbourg.

quando cheguei ao urban pool, um bar meio trendy cheio de pessoal produzido a tentar parecer desleixado, mas ainda assim um sítio giro com uma grande parte ao ar livre (saudades do bairro alto!) já os portugueses tinham chegado há muito tempo. é o chamado ny gang, formado pelos portugueses que com o inov-art vieram para nova iorque. conversámos e contámos uns aos outros as nossas experiências de casas, trabalho, coisas que vimos, fizémos... todos em fase de adaptação, uns mais do que outros. quem é que já tem bicicleta, quem é que tem roommates chatas, quem é que foi ao moma, quem é que passou a tarde no toys ´r us, quem é que consegue encontrar legumes orgânicos que não sejam uma fortuna, quem é que quer ir viajar, quem é que tem saudades de casa?

voltei para casa, não muito tarde. é bom partilhar, comparar experiências. vermo-nos reflectidos nos olhos dos outros e perceber que não vale a pena estar sempre tão preocupados com o que é, o que vem, o que foi.

antes de vir para cá fui a uma consulta de medicina tradicional chinesa que adorei e que foi muito reveladora. não me esqueço do que a médica me disse depois de eu dizer que uma das muitas agulhas de acupuntura produzia uma sensação mais forte que as outras, não dor, mas pressão: pensas de mais, estás sempre preocupada. a agulha estava entre as sobrancelhas e embora fosse difícil de suportar resolvi aguentar na esperança que me fizesse bem. semanas depois, durante o jantar de sushi em casa da raquel, a sua roommate japonesa disse-me que na cultura japonesa, é na testa que se lê uma pessoa. espero aprender a não me preocupar tanto, para que quando for velhinha estar cheia cheia de rugas, mas das boas.