18.6.10

vigésimo terceiro - parte dois


pensei que o dia já tinha acabado, por assim dizer. que nada de especial ia acontecer, dado que era dia de semana e do trabalho ia para casa dormir. pensei mas pensei mal, e a minha suposição só demonstra como sou nova nesta cidade que nunca dorme e onde a qualquer momento e em qualquer lugar algo de inesperado pode acontecer.


saí do atelier por volta das 8 depois de ter estado a namorar uma tablet que lá têm e que estou a pensar comprar. decidi que não me apetecia entrar logo no metro e fui a andar, 8th Ave. abaixo, enquanto comia uma salada que tinha sobrado do almoço (as doses gigantescas das refeições têm vantagens!). virei para a 5th Ave e continuei a descer até chegar a Washington square, que ainda não conhecia. é uma praça com relva e àrvores a rodear uma pequena fonte. um arco ao estilo do arco do triunfo abre passagem para o início da 5th avenue de forma pomposa e, como vim a descobrir, é onde muitos músicos tocam.



uma banda estava a tocar jazz num cantinho, rodeada de muitos espectadores atentos e introspectivos. sentei-me e fiquei também a ouvir, fascinada e a pensar que não havia melhor maneira deacabar o dia. de repente um rapaz que estava ao meu lado também a ouvir começa a falar comigo. à conversa juntaram-se outras pessoas, de todos os géneros, todos divertidos e bem-dispostos. quando a banda acabou de tocar juntou-se o saxofonista, um rapaz também da nossa idade à conversa (que não era mais do que circunstancial, pontuada de muitas gargalhadas) e em tom de brincadeira eu, o rapaz engravatado e o saxofonista concordámos que eramos melhores amigos desde há muitos anos. decidimos celebrar essa nova/antiga amizade num bar ali perto. afinal, ainda eram 10 da noite. mais tarde, a caminho de casa não pude deixar de sorrir ao pensar no que tinha acabado de viver e em na simplicidade de tudo. falar com outras pessoas é algo que não se pode evitar nesta cidade. faz parte dela como faz parte, do lado oposto do espectro, o acto instintivo de baixar o olhar quando algum maluco no metro desata a gritar com o mundo. nova iorque é a cidade das ratazanas e das baratas e é também a cidade das pessoas mais simpáticas que já encontrei.

1 comentário:

anacastro disse...

Que sonho, esta descrição incrível de um fim de dia em Nova Yorque e da maravilha que é a amizede em qualquer altura, em qualquer momento, quando menos se espera. Um estranho é o nosso maior amigo de há muito tempo. é memso. é assim o milagre da amizade, que é a melhor coisa que temos e levamos deste mundo. Encontro luminosos para a vida. E a tua abertura aos outro é abençoada.
beijocas
anacastro